Padrões impostos não devem ser aceitos

A mídia nos bombardeia o tempo todo com ideais de beleza distantes da nossa realidade. Ela dita como deve ser o seu rosto, corpo e cabelo, independente se isto vá contra a sua natureza ou não. Revistas, outdoors e novelas exaltam a beleza dos fios lisos em detrimento dos enrolados e crespos. Estes, quando aparecem em alguma matéria, aparecem envoltos em falsas promessas, sempre com uma intenção preconceituosa de ‘domá-los’. Você há de convir que seu cabelo não é uma fera indomada só porque a sua genética não é lisa. E o fato de ser frizado, enrolado e volumoso não faz dele desprovido de beleza. Abra os olhos!

A cultura do longo e liso

A propósito, o cabelo cacheado é o gene dominante, ele predomina ao liso ao invés do contrário. Num país miscigenado como o Brasil, nos deparamos com uma infinidade de tipos de cabelo cacheados e crespos, que embora sejam predominantes, se observarmos ao nosso redor, só encontramos fios lisos. Como assim?

São fios esticados artificialmente, desprovidos de luminosidade, balanço e volumes naturais. Colados ao couro cabeludo devido ao excesso de química, com pontas espetadas, sem caimento. São cachos torturados, esmigalhados, degradados, e principalmente: não aceitos.

Esta cultura do cabelo liso e comprido que nos assola, promoveu uma legião de mulheres robôs sem personalidade e infelizes. Elas não se aceitam como são porque não se sentem aceitas, afinal o padrão de beleza é outro. A protagonista de novela é o seu oposto.

Elas cresceram acreditando que seus cabelos são ruins, inadequados, inapropriados. Cresceram vendo um ideal de beleza que não lhes pertenciam e acreditaram que só correndo atrás dele e lutando contra sua própria natureza conseguiriam serem aceitas, e consequentemente, felizes. Ledo engano.

Um universo de privações

Essas mulheres foram privadas do banho de mar e de piscina com amigos, e quando se permitiam usufruir deste prazer, já sofriam por antecipação só em pensar no procedimento de tortura que teriam que se submeter após alguns momentos de satisfação.

Como uma punição enfrentavam longas horas de secador, chapinhas, relaxantes e progressivas, cheias de produtos químicos fortes, alguns cancerígenos, que alteravam sua estrutura capilar e lhe roubavam sua essência, sua verdadeira beleza. Algumas conquistaram até uma calvície indesejada.

Mas o pior disso tudo, é que o ritual de estica e puxa roubou momentos felizes de suas vidas. As fizeram odiar mudanças climáticas e deixarem de usufruir de um agradável banho de chuva no verão. As fizeram perder um encontro com amigos e dispensar boas companhias porque, simplesmente, não podiam fugir do padrão. As fizeram perder horas de sono porque não se sentiam preparadas para assumirem seus cabelos para o mundo. As fizeram saírem frustradas de diversos salões de beleza, onde numa peregrinação constante, nunca encontraram um cabeleireiro que entendesse sua verdadeira essência e não fosse dominado pela cultura do liso. As fizeram se sentir feias e inadequadas quando deveriam se sentir belas e confortáveis consigo mesmas.

Enxergando fora da bolha midiática

Confesso que fiz parte desta legião de mulheres manipuladas por uma cultura cruel e insana. Confesso que parte das histórias é minha, mas que meu autoconhecimento e informação me permitiram a enxergar fora da bolha midiática, me permitiram indignar-se com o meu passado de privações e lutas incoerentes e me fizeram mergulhar num processo de autoaceitação que não teve mais volta.

Hoje eu enxergo com horror e, ao mesmo tempo, penalizada, quando vejo uma infinidade destas mulheres em ônibus e metrôs, andando pelas ruas. Sinto a infelicidade impregnada nelas e tenho vontade de gritar, de pegar pela mão, de aconselhar, de tirar essa venda de seus olhos de acabar de uma vez com todas com esta cegueira coletiva. E por isto decidi transformar meu grito interno em um grito verbal que consiga ecoar pelo mundo cibernético e com isso chegar ao mundo real.

Tenho esperança que algumas dessas mulheres leiam isso, que procurem informações, que aprendam a cuidar de seus cabelos respeitando sua verdadeira natureza e não seguindo cartilhas destinadas aos fios lisos e às feras indomadas que não existem.

Quando vejo essas mulheres eu penso que se elas soubessem o quanto seriam tão verdadeiramente lindas apenas sendo o que são, respeitando sua própria natureza, se libertando destas amarras invisíveis, suas vidas seriam outras.

Pretendo dar sequência a uma série de postagens explicando como aceitar-se e cuidar do próprio cabelo. Espero que estes posts e tutoriais ajudem mulheres a se livrarem das químicas e, finalmente, se libertarem das amarras midiáticas.

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