Quando a Josiane Santos publicou uma foto sua de antes e depois do big chop, em um dos inúmeros grupos de cabelos cacheados que participo, quase caí pra trás. Fiquei impressionada com a sua beleza, determinação e plenitude.
Pelo semblante da fotografia, ficou evidente que a transformação que ela havia passado não tinha sido superficial. Foi uma transformação verdadeira, de dentro pra fora, vencendo barreiras, se aceitando, e finalmente, se redescobrindo e se amando.

O antes e depois de Josi: impressionante!

E isso transparecia em tudo: no olhar, no sorriso, no seu rosto iluminado. Curtir a foto não me bastava, eu queria mais. Queria conversar com ela, descobrir sua história e compartilhá-la no blog, para que ocupasse um espaço reservado a outras histórias de superação que já passaram por aqui, com um objetivo único e claro: ajudar outras mulheres a aceitarem sua real beleza. 


E por esse motivo, essa empresária paranaense de 28 anos (ela vende lingeries!), natural de Colorado, mas que mora em Paiçandu, deixa aqui a sua marca. Espero que gostem da entrevista!

Sabrinah Giampá – Quando vi sua foto de antes e depois do Big Chop, fiquei curiosa para saber a respeito da história do seu cabelo. Pelo visto você usava alguma química para alisá-lo. Como foi isso?

Josi Santos – Até o início da minha puberdade meu cabelo era liso, usava até franjinha (rsrs). Tenho poucas fotos dessa época ,e as que tinha, a minha irmã confiscou, senão lhe enviaria alguma. Mas, enfim, depois disso,o meu cabelo estranhamente começou a mudar de textura, e eu odiei.


Josi: maratonas de alisamento começaram cedo
“Na infância, meu cabelo era liso e curtinho. Como eu fiquei muito revoltada quando ele mudou de estrutura, e insisti muito para alisar, foi isso o que minha mãe fez. Não me proibiu, mas tão pouco disse que achava meu cabelo feio ou coisa parecida.”



Sabrinah Giampá – Já ouvi dizer que,  para algumas pessoas, é natural a mudança de textura nesta época, mas pelo visto, com você foi uma mudança bem radical.

Josi Santos – Justamente, e foi aí que comecei minha maratona de alisamentos. Nesta época eu tinha entre 11-12  anos.

Sabrinah Giampá – Muito nova! Sua mãe não interviu?

Josi Santos- Durante a infância, meu cabelo era liso e eu usava bem curtinho, sendo assim, não dava trabalho algum, nem pra mim, nem pra minha mãe. Ela nunca interferiu nas minhas escolhas, me educou para escolher o que me fizesse feliz. Como eu fiquei muito triste e revoltada quando meu cabelo mudou de estrutura, e insisti muito para alisar, foi isso o que ela fez. Não me proibiu, mas tão pouco disse que achava meu cabelo feio ou coisa parecida.


Josi Santos com escova definitiva: último retoque

“Até os 21 anos fazia só relaxamentos, escova e chapinha, mas daí eu descobri a ‘milagrosa’ escova progressiva, lotada de formol. Mais tarde, comecei a fazer uma com menos formol, e na sequência,  resolvi mudar para a escova definitiva.”



Sabrinah Giampá- E os alisamentos continuaram?


Josi Santos – Até os 21 anos fazia só relaxamentos, escova e chapinha, mas daí eu descobri a ‘milagrosa’ escova progressiva, lotada de formol. Mais tarde, mudei de salão e comecei a fazer uma com menos formol, e na sequência, resolvi mudar para a escova definitiva.


Sabrinah Giampá-  E essa tortura durou quanto tempo? Quando foi que decidiu que queria resgatar seu cabelo natural das profundezas das químicas agressivas?


Josi Santos-  A última escova definitiva que fiz foi em dezembro de 2012, mas já havia decidido que queria voltar ao cabelo natural. Fiz apenas para passar as festas de fim de ano. Meu cabelo cresce muito rápido, e eu precisava fazer o retoque a cada três meses. Passar o dia todo no salão era muito cansativo. Sem contar que ele começou a ficar estranho, seco, opaco, sem graça.  Eu me olhava no espelho e me achava esquisita, sem vida, apática. Comecei a achar que toda a personalidade que tinha estava escondida por detrás da minha aparência. Quando conheci as histórias das meninas que passaram pela transição e vi fotos daquelas que fizeram big chop, percebi que era isso que eu queria. Eu precisava desesperadamente ser completamente EU. E é assim que me sinto hoje.

Josi numa fase de autoestima baixa


“Eu me olhava no espelho e me achava esquisita, sem vida, apática. Comecei a achar que toda a personalidade que tinha estava escondida por detrás da minha aparência. Quando conheci as histórias das meninas que passaram pela transição e vi fotos daquelas que fizeram big chop, percebi que era isso que eu queria. Eu precisava desesperadamente ser completamente EU. E é assim que me sinto hoje.”


Sabrinah Giampá – Além do desgaste de ter que retocar a escova definitiva e a insatisfação com o resultado final, o fato de não conhecer o seu cabelo natural também contribuiu para que interrompesse a química?

Josi Santos- Como eu comecei o alisamento químico assim que começaram as transformações da puberdade, eu não me recordava mesmo como era meu cabelo e muito menos como deveria cuidar dele. Mesmo assim, decidi parar com tudo e arriscar, mas nunca tinha ouvido falar em ‘transição capilar’. Descobri por acaso, pesquisando na internet. Depois fiquei mais a par do assunto, descobri os grupos no facebook, inclusive aquele onde nos conhecemos.

Josi no início de uma nova fase

“Estava um pouco acima do peso, me sentindo feia e sem graça. Um dia, sei lá, acordei pra vida. Comecei a fazer exercícios, regime, e consegui emagrecer. Pronto, aquele era meu corpo de antes, mas ainda faltava alguma coisa. Meu cabelo estava horrível, e eu havia cansado da ditadura do liso, da chapinha. Eu estava igual a todo mundo. Eu via no espelho uma imagem estereotipada”. 



Sabrinah Giampá – E mesmo não sabendo que havia um nome para a fase que estava passando, você estava vivenciando aquilo, que geralmente é um período difícil. Também foi assim pra você?

Josi Santos- Olha, eu passei por um período ruim, de autoestima baixíssima. Eu estava um pouco acima do peso (para os meus padrões), me sentindo feia e sem graça. Um dia, sei lá, acordei pra vida, comecei a fazer exercícios, regime, e consegui emagrecer. Pronto, aquele era meu corpo de antes, mas ainda faltava alguma coisa. Meu cabelo estava horrível, e eu havia cansado da ditadura do liso, da chapinha. Eu estava igual a todo mundo. Eu via no espelho uma imagem estereotipada. Só digo que não sofri muito durante a transição, ao contrário da maioria das meninas, porque trabalho em casa e minha vida social andava meio parada. O bom é que essa fase durou apenas quatro meses e meio, pois logo parti para o Big Chop.



“Certo dia, saí de casa para fazer algumas coisas e, intuitivamente, entrei no primeiro salão que vi e pedi para que a cabeleireira cortasse toda a parte alisada do meu cabelo.”



Sabrinah Giampá – E como foi seu Big Chop?

Josi Santos – Foi uma loucura! Certo dia, saí de casa para fazer algumas coisas e, intuitivamente, entrei no primeiro salão que vi e pedi para que a cabeleireira cortasse toda a parte alisada do meu cabelo. Só que ela quis fazer um corte muito sofisticado e ficou uma merda. Cheguei em casa e resolvi ir a outro salão. Pedi para a segunda cabeleireira tentar consertar aquilo, e graças a Deus, ela conseguiu. Fiquei feliz da vida. E essa é a minha breve história até a volta ao meu cabelo natural.


“Estou há quatro meses e meio com o cabelo natural, e eu sinto que não foi apenas o cabelo que mudou, fui eu quem mudei. Minha postura, sabe. Minha forma de se vestir, meu jeito de andar. Agora saio  ereta, de cabeça erguida, me sentindo gata mesmo (rsrs)”

Sabrinah Giampá- Qual foi a sensação de redescobrir o seu cabelo natural, que até então, você desconhecia?


Josi Santos –  Estou há quatro meses e meio com o cabelo natural e eu sinto que não foi apenas o cabelo que mudou, fui eu quem mudei. Minha postura, sabe. Minha forma de se vestir, meu jeito de andar. Agora saio ereta, de cabeça erguida, me sentindo gata mesmo (rsrs)


“Óbvio que as pessoas estranharam. Fizeram perguntas do tipo: – O que você fez com o seu cabelo?
 – Por que você não deixa crescer? Essa eu particularmente detesto. Outras ainda me aconselham a relaxar a raíz para diminuir o volume e coisas do gênero.”




Sabrinah Giampá-  E como foi a reação das pessoas a seu redor? Sentiu algum tipo de preconceito?

Josi Santos – Óbvio que as pessoas estranharam. Fizeram perguntas irritantes do tipo: – O que você fez com o seu cabelo? ou – Por que você não deixa crescer? Essa eu particularmente detesto. Outras ainda me aconselham a relaxar a raíz para diminuir o volume (aff…) e coisas do gênero, mas essas não representam nem 5% das pessoas que eu conheço. No geral, a maioria gostou bastante. Me disseram que fiquei mais bonita e que queriam cachinhos também. Como eu tenho personalidade forte, às vezes as pessoas evitam de falar o que pensam a meu respeito, e pra falar a verdade, eu acho melhor assim. ‘Pô’, eu não implico com ninguém, portanto não impliquem comigo! Simples assim.

“Como eu tenho personalidade forte, às vezes as pessoas evitam de falar o que pensam a meu respeito, e pra falar a verdade, eu acho melhor assim. ‘Pô’, eu não implico com ninguém, portanto não impliquem comigo! Simples assim (…) Alguns amigos me falaram que não gostam de mulher de cabelo curto, mas não me importo. Eles que vão cuidar dos cabelos das  namoradas deles! “




Sabrinah Giampá – Na sua infância, seu cabelo era liso, mas começou a encrespar na adolescência, o que a fez partir para os alisamentos. Durante esse período de mudanças, sentiu algum tipo de preconceito?

Josi Santos –  Não sei se sou muito sortuda ou muito desatenta, pois nunca percebi grandes manisfestações de preconceito por causa do meu cabelo. Quando criança, sofri bullying na escola por ser muito magra, hoje recebo elogios por isso, vai entender a cabeça humana! Alguns amigos me falaram que não gostam de mulher de cabelo curto, mas não me importo. Eles que vão cuidar dos cabelos das companheiras, namoradas e esposas deles! Quanto à a textura, ninguém disse absolutamente nada.


Josi e sua Brigite: amor incondicional
“Não sei se sou muito sortuda ou muito desatenta, pois nunca percebi grandes manisfestações de preconceito por causa do meu cabelo. Quando criança, sofri bullying por ser muito magra, hoje recebo elogios por isso, vai entender a cabeça humana! “



Sabrinah Giampá – E como foi a reação da sua família durante sua transição e big chop, sentiu algum tipo de rejeição?

Josi Santos- Minha família nunca desaprovou a minha transição, muito pelo contrário, só acharam que eu não chegaria ao fim, pois sofro de transtorno bipolar e mudo muuuuiiitoooo de ideia  Ficaram surpresos com a minha atitude e determinação quando eu cortei o cabelo. Também se surpreenderam com a textura dele, afinal ,nem eles sabiam como era o meu cabelo natural. Mas a galera aqui é muito tranquila, minha mãe e minha irmã são super modernas, vivem mudando o visual, assim como a maioria das minhas amigas.


“Minha família nunca desaprovou a minha transição, muito pelo contrário. Ficaram surpresos com a minha atitude  quando eu cortei o cabelo. Se surpreenderam com a textura dele, afinal, nem eles sabiam como era o meu cabelo natural.”

Sabrinah Giampá – Com o apoio da família tudo é mais fácil! E a sua mudança não foi apenas externa, foi interna também

Josi Santos- Posso dizer que foi plena. Antes, ficava o dia todo sem me olhar no espelho. Eu não me reparava. Agora eu olho no espelho todos os dias e me vejo, me vejo de verdade. Eu precisei mudar a minha ideologia para mudar a minha aparência. Na verdade, eu nunca achei que cabelos crespos/caheados fossem feios, mas eu acreditava que não era capaz de ter um cabelo bonito ou de me sentir bonita com esse tipo de cabelo, entende? Mas eu sou capaz sim, meu cabelo está crescendo e ficando cada vez mais bonito, e eu estou cada vez mais orgulhosa disso.


“Antes, ficava o dia todo sem me olhar no espelho. Eu não me reparava. Agora eu olho no espelho todos os dias e me vejo, me vejo de verdade. Eu precisei mudar a minha ideologia para mudar a minha aparência. Na verdade, eu nunca achei que cabelos crespos fossem feios, mas eu acreditava que não era capaz de ter um cabelo bonito ou de me sentir bonita com esse tipo de cabelo, entende? “



Sabrinah Giampá –Você teve apoio de algum parceiro (namorado/marido e/ou afins) durante todo o processo?


Josi Santos – Não sou casada e nem namoro, mas estou a procura… se souber de alguém rsrsrs. Na primeira vez que saí depois do big chop, confesso que fiquei um pouco insegura. Tive medo de não ser paquerada e me desanimar, mas correu tudo bem. Fui paquerada normalmente, o que me fez chegar à conclusão de que o preconceito só existe na nossa cabeça.

Sabrinah Giampá- Você concorda que existe uma ditadura do cabelo longo e liso? Acredita que tenha alguma relação com preconceito racial?

Josi Santos –‘Que cabelo duro!’, ‘Isso aí é cabelo de preto’…Quem nunca escutou essas expressões pejorativas? O duro é diante de tantos avanços da sociedade, ainda ter que ouvir essas barbaridades. Eu sempre achei cabelos cacheados lindos, mas como acreditava que jamais teria um cabelo natural lindo, alisava, pois assim me sentia segura, afinal, cabelo liso é cabelo bom, cabelo liso TODO MUNDO ACHA BONITO.  Por outro lado, o cabelo liso descaracteriza o negro e o aproxima de características brancas, o que pode contribuir para amenizar o preconceito daqueles que acham que o nosso cabelo é duro, sujo e fedido.


“Na primeira vez que saí depois do big chop, confesso que fiquei um pouco insegura. Tive medo de não ser paquerada e me desanimar, mas correu tudo bem. Fui paquerada normalmente, o que me fez chegar à conclusão de que o preconceito só existe na nossa cabeça.”


Sabrinah Giampá – E o tratamento dado pela mídia? Como percebe que os cabelos crespos e cacheados são mostrados?
Josi Santos – Quanto às referências de cabelos crespos na mídia, além de poucas, são falsas, né? Mostram cabeleiras super definidas no baby liss, com brilho espelhado e 0% de frizz. Genteeeee!?! Cabelo cacheado/crespo, por mais bem cuidado que seja, tem frizz, não forma cachos à la baby liss, e o brilho é um pouco mais modesto.

Josi :” Foda-se o que as cabeças preconceituosas pensam”

“Amor próprio é a chave do sucesso! Ao fazer a transição, só temos a ganhar: ficamos mais bonitas, estilosas, seguras e saudáveis. E quanto mais forças reunirmos, menor será o preconceito. Foda-se o que as cabeças preconceituosas pensam!”



Sabrinah Giampá- Como você estiliza seu cabelo? Que produtos usa? É adepta das rotinas low poo/no poo, conhece?

Josi Santos – Conheço sim a rotina Low/no poo, mas não sou adepta. Uso xampu e condicionador Wella Proseries Hydration. Eu faço o cronograma capilar com máscaras da Niely Gold, Novex e Wella Pro Series. Finalizo com fitagem, e para isso gosto de cremes de pentear mais grossinhos ,como o Wella Proseries Hydration e o Seda Cachos definidos e comportados.


Os queridinhos da Josi


Sabrinah Giampá- Quanto tempo leva para estilizar seu cabelo? Acha que dá trabalho?

Josi Santos – Levo de 15 a 20 minutinhos, não dá trabalho nenhum. Antigamente, ficava duas horas fazendo chapinha, e o primeiro chuvisco que vinha acabava com tudo. Agora, o único problema é o tempo que demora pra secar.

Sabrinah Giampá – O meu também demora horrores, mas nem ligo, saio com ele molhado mesmo!

Josi Santos – Eu não gosto de sair com ele molhado, no mais, tudo certo. Todos os cuidados que tenho com meu cabelo, aprendi nos grupos do facebook, fazendo pesquisas na internet e assistindo a vídeos no youtube. Devo a saúde do meu cabelo às meninas que tiveram a coragem de voltar ao cabelo natural antes de mim, e por isso,também quero servir de exemplo para meninas que querem voltar ao cabelo natural.

Josi: estilização com Seda Cachos Comportados

Sabrinah Giampá- Qual o recado que você deixaria para outras meninas que tem uma história parecida com a sua, mas que não conseguem se aceitar devido ao preconceito?

Josi Santos – Eu acredito que a transição capilar não é só um processo de autoaceitação, é também uma prova de amor, de amor próprio. A sociedade e a mídia nos dizem que temos que ter seios grandes, bumbum farto, manequim 38, pele de bebê e cabelos lisos e sedosos para sermos lindas. E eu e um monte de gente que já tirou essa venda hipócrita dos olhos, dizemos que para sermos lindas temos que nos amar do jeitos que somos. Amor próprio, gente, essa é a chave do sucesso!  Ah, e o mais importante, tenho certeza que alguém conhece algum caso, ou já ouviu algum relato sobre os malefícios que esses produtos químicos podem provocar em nosso organismo. Ao fazer a transição, só temos a ganhar: ficamos mais bonitas, estilosas, seguras e saudáveis. E quanto mais forças reunirmos, menor será o preconceito, e desculpem a minha linguagem, mas tenham dó, né? Foda-se o que as cabeças preconceituosas pensam!

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