Mulheres crespas convivem diariamente com o preconceito em relação aos seus cabelos, que são tidos como inadequados pela sociedade em geral, principalmente no que se refere ao âmbito profissional. Casos como esses acontecem com frequência, e em algumas situações, ganham destaque na mídia, mas apenas porque a vítima o denunciou. Me lembrei de um caso similar que aconteceu no Colégio Internacional Anhembi Morumbi, em São Paulo. Pesquisando na internet, me deparei com uma matéria do portal IG, publicada em 2011, que relatava o caso resumidamente:
Uma funcionária do Colégio Internacional Anhembi Morumbi, localizado no Brooklin, bairro nobre de São Paulo, registrou um boletim de ocorrência por racismo na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). A estagiária de marketing Ester Elisa da Silva Cesário, de 19 anos, afirma que a diretora do colégio chamou sua atenção duas vezes e sugeriu que alisasse os cabelos crespos para manter a “boa aparência”.
Endia Beal, fotógrafa responsável
pelo projeto ‘Can I touch it?’
Esta ‘boa aparência’ exigida no mercado de trabalho também não é conivente com penteados étnicos, aderidos por muitas mulheres negras, que incluem tranças, turbantes e afins. Quando essas mulheres não recebem uma espécie de ‘alerta’, como recebeu a funcionária do colégio citado acima, elas são obrigadas a lidar com olhos tortos e até um certo distanciamento. E quem sentiu de perto o preconceito no mundo corporativo foi a fotógrafa americana, Endia Beal, criadora do projeto ‘Can I Touch it?’, que traduzido para o português, significa: Posso tocá-lo? “Eu queria que as pessoas tivessem uma ideia de como estamos expostos ao julgamento por nossa aparência no ambiente profissional, e seria um desafio para mulheres brancas entenderem o que eu e outras mulheres negras experimentamos nesse  espaço”, explicou ela para David Rosenberg, editor do blog ‘Slate´s Behold’  
Sobre o projeto “Can I touch it?

O projeto tinha regras simples. A fotógrafa selecionou mulheres brancas de meia idade e as levou para um salão de cabeleireiro especializado em penteados afro, e deu a cada uma delas um penteado ‘black’, sem que estas tivessem opção de escolha. Para as envolvidas, a ideia seria apenas experimentar um novo penteado e tirar uma foto no formato corporativo tradicional. O que não esperavam é que os retratos fugiriam totalmente do tradicional. O que mais se destacou nessas fotos, não foram os penteados em si, mas sim as expressões de perplexidade, em alguns casos de dor – a mesma dor de quem um dia se sentiu inadequada – como a própria Endia Beal.  
Embora as fotos revelassem esses sentimentos conflitantes, muitas dessas mulheres disseram que se sentiram entusiasmadas, simplesmente, em aprender sobre novos produtos e estilos, e de serem capazes de fazer perguntas sem se sentirem intimidadas. Beal disse que muitas das mulheres que ela levou para o salão tiraram fotos de seus novos penteados em seus smartphones e postaram no Facebook . Quase todas  abraçaram Beal após a sessão de fotografia, agradecendo por ter experimentado algo novo. Algumas queriam continuar com seus penteados e ir para a casa mostrar para os seus maridos.  A fotógrafa disse que o projeto também tinha um intuito de tirar essas mulheres de sua zona de conforto e fazê-las vivenciar uma situação nova, mas que não é inédita para as mulheres negras no geral. 
Ainda neste trabalho, a fotógrafa buscou  criar um diálogo entre pessoas de sexo, raça e gerações diferentes, sobre a maneira que nos expressamos, especificamente num ambiente corporativo. A ideia para o Can I touch it? surgiu quando ela estagiava no departamento de TI da Universidade de Yale. No momento em que recebia seu MFA em fotografia (certificado). Endia que é negra e alta, usava um cabelo afro vermelho, e se destacou entre seus colegas, na maioria homens brancos. Um colega comentou com ela sobre o comentário que circulava nos bastidores do escritório: muitos homens estavam curiosos sobre o seu cabelo e queriam tocá-lo.
Sendo uma artista cheia de personalidade, Beal pediu aos homens não apenas para tocarem no seu cabelo, mas para puxá-lo. Uma semana depois, gravou um vídeo com esses homens, narrando sobre essa nova experiência: “Eu queria permitir que essas pessoas sentissem algo diferente, algo que nunca haviam experimentado antes, e através dessa experiência, eles também se sentiram desconfortáveis”, explicou. 
Ela sabia o que significaria enfrentar um ambiente corporativo com um penteado afro, mas não teve medo de superar os obstáculos, assim como outras mulheres acabam enfrentando. Criar um projeto de arte com este foco,  aliando as dificuldades com seu processo criativo, lhe pareceu a melhor maneira de dar voz a essas mulheres e incentivá-las a aceitarem os seus cabelos naturais, apesar do preconceito. 
Fonte: www.slate.com

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